Muito do que se conhece das antigas civilizações e do que foi concluído pelos estudiosos deste assunto se deve à análise dos utensílios e artefatos utilizados por estas civilizações. Objetos que sobreviveram às circunstâncias que extinguiram os seus criadores.
Detalhes... diz um velho ditado alemão que o diabo mora nos detalhes e que quando esse ditado aparece pra você é porque você está precisando prestar atenção neles. Enfim, detalhes encontrados nos objetos conduzem ao exercício de imaginar quem os criou, utilizou e com qual finalidade. Objetos ricamente ornamentados, raros e de confecção mais demorada apontando para um usuário especial, ao passo que as peças mais rústicas e encontradas em maior quantidade pressupõem a sua aplicação em massa. Assim, uma sociedade começa a ser desenhada em função de pistas sutis que ela mesma nos deixou de herança. Escritos muitas vezes invisíveis à leitura imediata, portais para um conhecimento inesgotável. Castas, estruturas hierárquicas, habilidades e materiais dominados, ferramentas empregadas, disposição para a criação e para a destruição, deidades cultuadas e potencial bélico...
A civilização exercendo a arte de criar, reformar, dar novos significados e de destruir. A civilização e a arte de transformar e manipular os recursos disponíveis. A civilização e a alquimia.
A arte de reproduzir o cenário desenhado pela natureza em meio à escassez de recursos, uma tela levando semanas para ser produzida e os parcos corantes extraídos dos minerais e vegetais do entorno. A civilização e a arte da alquimia. A arte de se manifestar enquanto se luta pela própria sobrevivência em meio a batalhas e doenças.
O planeta em seu giro constante e as coisas se sucedendo lentamente até mesmo na época já alcançada pela história oficial. Mortais e imortais contracenando em cenários terrestres ou oníricos e o status mundano se mantendo. Depois, revoluções sócio-político-econômicas a pipocar no velho mundo, com velhas monarquias varridas do mapa e colônias se libertando, o conhecimento técnico ocupando o seu lugar entre os mortais e o planeta acelerando (ou assim parecendo).
Uma nova ordem, com a arte cumprindo fielmente o seu papel de retratar o panorama, mas com os seus agentes de então interpretando, acima de tudo (o que não acontecia antes), esta nova ordem. A nova ordem vislumbrada através do filtro do rastro romântico deixado pela máquina a vapor. Mãos talentosas guiadas por mentes vanguardistas e corações inquietos interpretando e ditando tendências. Uma nova concepção.
"A arte não reproduz o que vemos. Ela nos faz ver." Paul Klee
A tecnologia aparece flertando com a civilização, esta já seriamente comprometida com a arte (mesmo sem muitas vezes se dar conta), formando um triângulo promissor. A tecnologia, aparentemente, em antagonismo com a arte. E o planeta acelerando (ou assim parecendo). A idade moderna. Moderna idade. Modernidade. Modernismo. Muitos ismos. Nunca se produziu tanto em tão pouco tempo, com tanta diversidade e tantos rótulos e em tantas áreas do conhecimento. As consciências se expandindo, assim como o nosso Universo, e todas as vertentes convivendo, assim como todos os Universos.
A tecnologia aparece flertando com a arte, já tendo construído uma relação com a civilização, da qual esta última é totalmente dependente. Com a arte, a tecnologia consegue tão somente estabelecer uma relação de servilismo, porque estará sempre à serviço da arte. Mortais, imortais e a tecnologia compartilhando o mesmo palco.
A tecnologia e a arte e a alquimia dos bits e pixels. A tecnologia que leva a arte mais longe e que a traz para mais perto de milhões de cidadãos. A tecnologia reforçando o relacionamento sério da civilização com a arte, ajudando, assim, a nos fazer ver.
"Porque a gente não quer só comida... a gente quer comida, diversão e arte." Titãs
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