Cada visita a Paris é uma experiência única, mas descrevê-las me parece sempre algo como chover no molhado. No molhado que reflete as luzes da cidade Luz.
Ainda assim...
A minha primeira visita a Paris foi no carnaval de 1998 e foi bruscamente interrompida por uma tragédia familiar (além de um alagamento que eu consegui promover no quarto enquanto lutava com o chuveiro, mas isso é melhor pular). As circunstâncias então exigiram o meu retorno imediato ao Brasil. Mas como o meu voo antecipado só sairia na noite seguinte, permiti-me uma despedida em grande estilo conduzida através das névoas de uma antiga estação de trem reproduzidas por mãos divinas e imortalizadas no Museu d’Orsay. Foram horas fascinantes que me acompanham desde então.
A segunda visita, na primavera de 2008, foi menos turbulenta e muito mais reveladora, com o reconhecimento da geografia da cidade e respectivos monumentos e locais icônicos, além dos museus (é claro que teve repeteco de d’Orsay) que o tempo de permanência permitiu. Admirar a arquitetura durante caminhadas e fazer o cruzamento de tudo o que é visto com as informações das aulas de história é tão desafiador e fascinante quanto decifrar a malha do transporte subterrâneo. Coisas que fazem a mente e o coração se lançarem no mesmo compasso. Dois lugares que poucos turistas devem procurar eu me dei o luxo de visitar: o Museu de Artes Decorativas do Carrousel du Louvre, só para descobrir ali um assento sanitário Sobral Designer que eu mesma tenho em casa e para pegar carona numa aula de mobiliário; e, no Petit Palais, a exposição dos últimos dias de uma Maria Antonieta aprisionada na Conciegerie, cuja imagem o filme homônimo da Sofia Copolla ajudou a resgatar perante o grande público.
A terceira visita, no outono de 2018, foi mais ou menos a trabalho... mais ou menos porque já não sei mais o que é ou o que não é trabalho. Quando se faz o que se gosta parece injusto usar este substantivo... Em todo caso, nesta terceira visita o meu objetivo principal foi acompanhar a apresentação de duas obras que eu fiz em arte digital na Art Shopping Fair 2018 que aconteceu no Carrousel du Louvre nos dias 19, 20 e 21 de outubro. Mas a gente sempre tem uma folga ou abre uma brecha na agenda, por mais apertada que seja, para provar uma novidade (ou nem tanto) no menu parisiense.
A novidade em questão já estava na minha mira bem antes da viagem se materializar... Atelier des Lumières, o primeiro museu de arte digital do mundo. A tecnologia a serviço da emoção.
Nesta temporada específica, a proposta é a imersão nas obras de Gustav Klimt e Hundertwasser. Magníficos!
Além das obras em si, no caso do Gustav Klint, é dado um panorama da Viena de quando lá ele viveu, do movimento Secession, das fachadas vienenses art nouveau e a sucessão dos fragmentos do que vai compor o Beethoven Fries até o clímax ser atingido com as infinitas Adeles. Cores em paletas frias que derretem até o coração mais congelado.
Friedrich Stowasser, também vienense e mais conhecido pelo nome de Friedensreich Hundertwasser, transitou pela pintura, escultura e arquitetura, sendo de grande influência na arquitetura orgânica moderna, com a proposta de substituir a rigidez das formas.
Esta imersão é emocionante, comovendo até às lágrimas. Uma oportunidade rara que foi estendida até janeiro devido ao grande sucesso. Quem ainda não está familiarizado com as obras de ambos, vai se apaixonar. Quem já é fã não vai se cansar de descobrir novas facetas e de se encantar ainda mais.
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