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Foto do escritorClaudia Schmidt

Tudo era apenas uma brincadeira...

Atualizado: 3 de dez. de 2018


que foi crescendo, crescendo e me absorvendo, e de repente eu me vi assim, completamente refém daquela necessidade própria dos terráqueos... Não! Não, ainda, aquela de esmagar, matar, destruir ;) mas sim, a de classificar, categorizar e rotular :(


Pois é.


Desde sempre eu fui do tipo de inventar moda. Coisa que eu herdei da minha mãe e que ela sempre estimulou em mim. Dizia que quando as mãos não se mexiam a cabeça virava uma oficina do diabo. Não entendia direito o que isso significava, mas parecia ser uma coisa importante, além de uma boa desculpa pra inventar moda. E foi assim que, mesmo indo pra área das ciências exatas e exercendo a engenharia durante todo o tempo regulamentar, esse lance das mãos em atividade me acompanhou em todos os intervalos que vislumbrei enquanto vestia a fantasia de engenheira.


Pintava e bordava do jeito usual, até que um projeto de telecomunicações onde eu trabalhei me mostrou que se podia fazer coisa similar de um jeito digital. Com aplicativos legais e um iPad (que eu ganhei de aniversário da minha mãe quase aos 50 anos de idade - meus, não dela!) eu era a criança mais feliz do mundo. Até os aplicativos começarem a capotar por não acompanharem as atualizações do sistema operacional do tablet, ou porque as atualizações não estavam disponíveis na loja de aplicativos do Brasil, ou etc etc etc... além de me restringirem um pouco, pois tinha coisa que eu tentava fazer, mas o app não era para aquilo, a resolução da imagem era baixa e eu não sabia se tinha implicações legais divulgar coisa feita com elementos do aplicativo etc e tal.


Enfim, foi uma questão de independência (dos apps) ou morte (dessa brincadeira)... e esta última me parecia indesejável, uma vez que muitos amigos apreciavam os meus trabalhos e me estimularam muito quando eu perdi a minha mãe (que continua a me soprar o lance da oficina de onde quer que esteja). E porque é uma delícia fazer isso \o/


A primeira, independência, podia ser conquistada de um jeito com o qual a engenheira estava familiarizada - estudando e praticando, sondando o terreno e me arriscando em ambiente de laboratório antes de sair a campo. Aí, o meu irmão me fala que tudo na vida é uma questão de CHA. Conhecimento, habilidade e atitude, completou ele, antes que eu tivesse tempo de colocar a água no fogo. E me jogou confete, dizendo que considerava que o C e o H do meu CHA estavam ok, mas falou que o A estava muito fraco :(


Eu dei um monte de desculpas pra ele e pra mim mesma, aliviando a barra do meu A (o que você quer que eu faça, pô??? como assim, sair da minha zona de conforto??? você acha que é fácil e que eu ainda não fui atrás das coisas???)... mas ele me conhece bem (demais) e eu também a mim mesma e as desculpas não colaram. E eu entendi o recado. Estava procrastinando... Não queria sair a campo e inventava um monte de obstáculos.


Fui apresentada a uma curadora que apreciou o meu trabalho e o levou para ser conhecido em SP e fora do Brasil. Oportunidade que eu abracei com carinho e, recentemente, até acompanhei a exibição de algumas obras com o crachá de artista digital.


As pessoas se surpreendem com a Arte Digital, sentem-se curiosas e eu procuro explicar, mas só o que consigo até agora é discorrer sobre o meu processo criativo particular e sobre outras possibilidades de criação que eu consigo enxergar, além de explicar sobre as ferramentas computacionais com seus efeitos e filtros, os tipos de impressão em canvas ou papel livre de ácido, a tecnologia fine art e a sua importância para se obter a fidelidade das cores e a durabilidade da obra por muitas décadas.


Mas isso me parece insuficiente e me sinto desconfortável ao discorrer sobre isso, parecendo um representante de software ou de impressora. Isso é o como eu faço... mas exatamente o quê, eu faço?


Então, fui estudar... estou no comecinho do livro Arte Digital, Novos Caminhos na Arte, cujo autor é Wolf Lieser, e colaboradores, que se dedica há quase 30 anos ao estudo desta vertente artística e que já dirigiu galerias de arte digital em Londres e na Alemanha, além de ter concebido o DAM - Digital Art Museum e a galeria associada em Berlim que desde 2003 exibe a sua obra.


Aprendi que desde 1940 se pratica arte digital. Esta apareceu com os primeiros computadores e os artistas, sedentos por novas formas de expressão, se sujeitavam a aproveitar as escassas horas ociosas dos imensos computadores do MIT e de universidades europeias para eles mesmos programarem algoritmos que fizessem com que as penas dos plotters, que eram as impressoras de então, lhes traduzissem a inspiração que traziam na alma e no coração. Uma artista abençoa as inúmeras manifestações e paralisações estudantis que assolaram a França na década de 70. Sem estas, ela não teria conseguido as muitas horas de processamento que lhe garantiram a consolidação da carreira.


O livro é ricamente ilustrado e já consigo distinguir um artista de outro, da mesma forma que diferencio um impressionista de um pop.


Ainda não sei se o que eu faço se abriga no guarda-chuva da arte digital... até onde eu li, quem usa softwares comerciais, assim como eu, não é artista digital.


Mas estou no começo do livro e é muita informação para o meu processador e memória terráqueos absorverem, portanto eu releio e paro a qualquer sinal de overflow. Além disso, posso dizer que tive recentemente um insight valioso que, agora analisando mais friamente, pode ter sido outro sopro da minha mãe ao me encontrar nesta situação... nessa coisa que eu mencionei de achar que eu preciso me explicar, classificar e categorizar o que eu faço e me esconder atrás de um rótulo como que justificando a minha existência. Faço isso porque sou aquilo. Projetei assim porque segui um teorema.


Não consigo explicar o 'isso' ou o 'aquilo'... Mas, sei que faço 'isso' porque é um barato. Faço um monte de flores e outras coisas porque acho legal e me sinto bem ao olhar pra elas. Quando não acho mais que são bacanas, é fácil mandar pra lixeira e é como se nunca tivessem existido. Começou como uma brincadeira, no sentido de ser uma fonte de leveza e de exploração para mim, sem o compromisso de ser infalível. Sem a necessidade de ser imortal, posto que a inspiração é uma chama, mas com o propósito de ser infinitamente leve e prazerosa enquanto dure. E é assim que deve permanecer. É nisso que vou focar, mas vou continuar a ler o livro e (talvez) chegar a uma (ou mais) conclusão (ões).






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